sexta-feira, 20 de março de 2009

Bioconstruções - Tecnologias para Habitação

Adobe

Mais de três mil anos de história confirmam e garantem a viabilidade de uma das mais antigas técnicas da arquitetura vernacular. Para fazer o tijolo de adobe qualquer barro serve, não exige mistura precisa de argila e areia, é seco ao sol e não leva mais do que três dias para ficar pronto. É largamente utilizado pelas populações tradicionais ao redor do mundo. Em algumas cidades do interior do Brasil tijolo de seis furos não tem "vez", pois o adobe é predominante na arquitetura local. O tamanho do bloco varia conforme o tamanho da fôrma e a largura de parede desejada, mas a receita básica é a mesma: terra, água, palha picada e as fôrmas, geralmente de madeira. A terra é misturada com água e pisada até formar uma mistura homogênea. Depois de colocada nas fôrmas, estas são retiradas e o tijolo é deixado ao sol para secar.
A massa para sentar os adobes na parede é a mesma massa de que o próprio adobe é feito, uma casa pode ser construída sem usar nenhum cimento.

Um pequeno grupo de pessoas pode fabricar rapidamente todos os adobes necessários para a obra.

Vantagens:
- qualidade do ar
- isolante térmico
- independente de cimento nas paredes
- mais de três mil anos de eficiência comprovada
- confecção dos tijolos é rápida e simples

Bambu

O bambu é uma planta extremamente versátil, aplicado nas mais diversas situações, desde utensílios domésticos, passando pela fabricação de papel até chegar na arquitetura.
As fibras do colmo do bambu são extremamente fortes, ao mesmo tempo em que são flexíveis, características que são transferidas quando a planta é aplicada à construção. Em algumas regiões do Peru as construções de bambu já provaram sua segurança resistindo a inúmeros terremotos, imponentes em meio às ruínas de prédios modernos incapazes de resistir aos tremores.

Além de resistente e facilmente encontrado, o bambu integra-se maravilhosamente ao ambiente.

Os povos da Ásia há milhares de anos já conhecem as inúmeras vantagens desta planta. É comum avistar em meio aos arranha-céus, gigantescos andaimes que são montados amarrando-se as varas de bambu. No Japão, empresas estão adicionando as fibras do bambu aos blocos de concreto que são utilizados na construção de rodovias, pontes, viadutos, dentre outras aplicações.

O bambu requer tratamento que possa garantir sua durabilidade e evitar o ataque de insetos e microorganismos. O tratamento convencional é realizado com a utilização de químicos que são extremamente tóxicos. Mas é totalmente possível um tratamento ecológico do bambu, os mesmos tratamentos que garantiam a resistência das construções milenares funcionam perfeitamente nos dias de hoje. O tratamento varia de acordo com a espécie, seja o tratamento com fogo, cera, água, tanino, assim como a forma de construção varia conforme a região de sua origem, encaixe, amarração, pinos, etc.

Vantagens:
- versatilidade
- resistência


Cob

Técnica originária do interior da Inglaterra que remonta ao período medieval europeu. No COB a matéria prima principal é o barro argiloso adicionado de palha e um pouco de água, o segredo de um bom COB está no trabalhar o barro, que deve ser pisado de forma quase rítmica até se chegar ao ponto, ou liga, desejada. A proporção de argila na terra deve estar em torno de 30%, em alguns casos é necessária a adição de areia à mistura, a palha ideal é a de arroz, que vai servir como a amarração dos blocos de COB ao serem montados na estrutura. Quase que uma massa de modelar, a técnica permite dar-se a estrutura a forma desejada, construindo casas com formas artísticas, arredondadas, com armários ou sofás embutidos nas paredes, após o período de secagem uma casa de COB parece ter sido esculpida de um bloco só.
Na técnica não é necessário adicionar cimento, não dependendo de gastos com materiais externos, e com todas as vantagens que só uma casa feita de terra possui.

Uma das maiores vantagens do cob é o poder de personalização de sua forma.

Vantagens:
- qualidade do ar
- isolante térmico
- 100% independente de cimento
- possibilita formas orgânicas e artísticas


Fardos de palha

Dos materiais naturais comumente utilizados na bioarquitetura o de melhor conforto térmico e acústico é com certeza a palha, numa das técnicas mais recentes, desenvolvida há menos de duzentos anos nos Estados Unidos. A construção com fardos de palha se aproveita dos mesmos fenos que são utilizados para conservação e transporte da forragem animal, mas que na maioria dos casos é resíduo abundante das lavouras de produção de cereais, como o trigo e o arroz. A grande vantagem deste material consiste no fato da palha dos cereais conter sílica, que com o passar do tempo fossiliza contribuindo com a longa durabilidade do material. Uma edificação de fardos de palha conta com elevada eficiência térmica e leva pouco tempo a ser construída. Devido a leveza e funcionalidade dos fardos estes funcionam como blocos a serem encaixados, erguendo assim paredes de forma rápida e simples.

Na foto, a parede de fardos de palha está sendo aparada para facilitar a aplicação do reboco natural.

Vantagens:
- um resíduo abundante nas lavouras de trigo e arroz
- contém sílica, atribuindo vida longa a obra
- conta com elevada eficiência térmica
- técnica de rápida execução



Mosaicos - técnica de decoração

Já diz o ditado permacultural: "O problema é a solução". Não existe quem já não tenha se surpreendido com a beleza de um mosaico, seja nos vitrais de uma catedral gótica da idade média, ou seja num mural de Antony Gaudi, os mosaicos proporcionam um visual extremamente belo. E podem ser obtidos de forma muito fácil e econômica, na confecção são utilizados pedaços e restos de pisos e cerâmicas. É fácil conseguir a matéria prima, basta procurar junto à demolidoras ou no depósito de lixo local, quanto maior a variedade de cores e padrões, mais criativo deve ser o resultado final. Montar um mosaico é como montar um quebra cabeças, pode se começar a partir de um desenho ou simplesmente ir seguindo um padrão. O mosaico é excelente para revestimentos no banheiro ou na cozinha, pisos ou um enfeite externo num muro ou numa mesa de jardim. O resultado é excelente e o investimento é pequeno visto que se trata de um resíduo que geralmente acaba virando entulho.

Todas as mesas da praça de alimentação do Ecocentro IPEC são decoradas com mosaicos.

Vantagens:
- versatilidade
- visual
- economia

Rebocos naturais

Uma casa construída com técnicas de bioconstrução merece um revestimento à altura. Os revestimentos naturais seguem os mesmos princípios das já anteriormente citadas técnicas: utilização de recursos do local, economia de materiais e combustíveis, saúde para os habitantes, tecnologia simples e tradicional, dentre outros. Para se obter um bom resultado no reboco, é interessante se estudar e testar a composição de seu solo, mais argiloso, menos argiloso, arenoso, saibroso, etc. Cada caso é um caso e a proporção destes materiais varia de local para local, mas existe um ingrediente básico que é de extrema importância: o esterco de vaca. O esterco das vacas contém o ácido lático que vai dar a liga necessária à massa de reboco e reduzir a necessidade de se adicionar cimento. Em caso de revestimentos externos, devido à ação da chuva, pequenas quantidades de cimento podem ser incorporadas à massa. Outros ingredientes colaboram com a durabilidade e resistência do reboco, como a cal, a cinza, e o óleo de linhaça.

Um reboco natural é o perfeito acabamento para uma construção natural!

Vantagens:
- conhecimento tradicional
- economia
- saúde para os habitantes


Superadobe

Brilhante técnica de construção desenvolvida na Califórnia e que utiliza-se de sacos de polipropileno preenchidos com subsolo do respectivo local. Relativamente simples e de fácil aprendizado, com custos baixíssimos por não depender de recursos externos nos principais estágios da construção. O Ecocentro IPEC dispõe da maior edificação em superadobe do hemisfério sul, trata-se da cozinha industrial. As habitações construídas com a respectiva técnica têm a característica de manterem níveis de temperatura e umidade constantes, sendo a terra um isolante natural. As edificações de superadobe reduzem significativamente os custos com refrigeração e aquecimento.

Para fazer o superadobe, basta socar sacos contendo solo uns sobre os outros.

Vantagens:
- extremamente simples e de fácil aprendizado
- economia de até 60% no custo final
- níveis de temperatura e umidade ideais para habitação humana
- paredes de terra são filtros naturais.
- elimina custos com refrigeração ou aquecimento do ambiente
- adaptável a qualquer tipo de solo



Taipa de pilão

Uma das técnicas de construção alternativa mais difundida ao redor do globo, utiliza-se de uma mistura de solo e cimento socada dentro de fôrmas de ferro ou madeira. As fôrmas são montadas no local e devem resistir a pressão exercida pela terra quando esta for socada. A matéria prima é o subsolo do local adicionado de 10% de cimento formando uma mistura chamada de solo-cimento. Cerca de 90% do material de construção das paredes pode ser proveniente do próprio local da obra, reduzindo drasticamente os custos da construção. Além de todas as vantagens em termos de eficiência térmica da construção em terra.


Apesar de exigir um grande esforço físico, a taipa de pilão é um dos melhores alicerces encontrados na bioconstrução.

Vantagens:
- 90% do material pode ser proveniente do próprio local
- reduz drasticamente os custos da construção
- eficiência térmica
- compatível com grandes obras



Taipa leve

Surgida na Alemanha a técnica do Leichtlem, ou taipa leve, é a ideal para preenchimentos isolantes ou divisórios internas. A matéria prima é a palha de cereal, abundante em áreas agrícolas, lambuzada com lama de barro argiloso. Na taipa leve utilizam-se fôrmas de madeira presas a algum suporte ou coluna, dentro das fôrmas é colocada a mistura de palha e lama que depois é socada. A fôrma vai subindo conforme vai sendo preenchida, depois de seca a parede está firme e pronta para receber o reboco. As paredes de taipa leve não são autoportantes dependendo de colunas de apoio e ficando seu uso restrito a divisórias. Estas pequenas limitações não oferecem oposição às inúmeras vantagens da técnica, que incluem isolamento térmico e acústico, baixo custo e uso de um recurso/resíduo do local.


A taipa leve é ideal para divisórias internas!

Vantagens:
- resíduo
- muito rápida e simples
- ideal para divisórias
- serve como preenchimento térmico



Fonte: http://www.ecocentro.org

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